terça-feira, 7 de setembro de 2010

TRABALHADORES X MALANDROS: CENSURA E PROPAGANDA NA ERA VARGAS


O controle dos meios de comunicação e o uso agressivo da propaganda foram estratégias comuns dos regimes totalitários europeus. O Estado Novo, regime ditatorial instalado por Getúlio Vargas no Brasil em novembro de 1937, também utilizou amplamente esses recursos.


Em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão diretamente ligado à presidência da República, encarregado de censurar os meios de comunicação social – como rádio, cinema, teatro e imprensa – e coordenar a propaganda oficial.


O rádio foi um dos órgãos mais controlados. Era um meio de comunicação que atingia diversas camadas da população. Um dos ritmos musicais mais tocados era o samba. O DIP exerceu forte censura sobre esse gênero musical, pois considerava que ele fazia críticas ao trabalho e ao trabalhador. Essas críticas chocavam-se com a propaganda do regime que exaltava o trabalho e cultuava Vargas como “pai dos trabalhadores”. O culto ao trabalho cumpria duas funções: permitir o desenvolvimento industrial e garantir a permanência de Vargas no poder através do apoio popular.


Durante seu governo Getúlio Vargas reconheceu alguns direitos dos operários, com o intuito de controlá-los e impedir que se organizassem e realizassem modificações profundas na sociedade. Mas a “concessão” desses direitos não foi suficiente para a melhoria das condições sociais dos trabalhadores. As dificuldades dos trabalhadores foram temas de diversos sambas que procuravam exaltar a figura do malandro, um tipo que preferia dedicar-se a bicos e pequenos furtos, evitando entregar-se ao trabalho, que, via de regra, só trazia benefício aos patrões.


Wilson Batista destacou-se como um dos sambistas mais afeitos ao tema, exaltando a malandragem em sambas como Lenço no pescoço. Gravada pela primeira vez em 1933, essa canção comparava dois tipos da sociedade carioca do período: o malandro e o trabalhador.



Com meu chapéu de lado, tamanco arrastando

Lenço no pescoço, navalha no bolso

Eu passo gingando, provoco e desafio

Eu tenho orgulho em ser tão vadio


Sei que eles falam desse meu proceder

Eu vejo quem trabalha andar no miserê

Eu sou vadio porque tive inclinação

Eu me lembro era criança

Tirava samba-canção.


Através da censura o DIP obrigou os sambistas a mudarem o tom de suas composições. O próprio Wilson Batista, autor de Lenço no pescoço, não conseguiu resistir ao cerco dos burocratas do regime. Em 1940, lançou, em parceria com Ataulfo Alves, O Bonde de São Januário, samba no qual exaltava as virtudes do trabalhador.


Quem trabalha é quem tem razão

Eu digo e não tenho medo de errar

O Bonde São Januário

Leva mais um operário

Sou eu que vou trabalhar


Antigamente eu não tinha juízo

Mas resolvi garantir meu futuro

Vejam vocês,

Sou feliz, vivo muito bem

A boemia não dá camisa a ninguém.


Em O Bonde São Januário, Wilson Batista faz uma espécie de mea-culpa sobre a exaltação do malandro dos seus sambas anteriores.


ESTUDO DIRIGIDO


1) O samba Lenço no pescoço procura diferenciar o cotidiano de malandros e trabalhadores. Como o compositor Wilson Batista caracteriza esses dois personagens?


2) Compare a letra da canção Lenço no pescoço, de 1933, com a letra de O Bonde São Januário, de 1940. O que mudou no tratamento dos malandros e dos trabalhadores?


3) Os dois sambas foram compostos por Wilson Batista. O que mudou entre os dois momentos históricos em que os sambas foram produzidos?


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