“Havia o professor responsável pela classe que algumas vezes aparecia de uniforme. Ele nos explicou o comunismo: ‘Comunismo é quando passamos por um açougue onde está pendurada uma lingüiça. Quebramos então a vitrine e levamos a lingüiça. Isso é comunismo’. [...] Depois ele nos explicou que agora se acabaria com os judeus e que como alemães nada deveríamos ter com judeus. [...] Eu estava na juventude hitlerista, isso era inevitável. [...] Estar na Juventude Hitlerista significava marchar, cantar. Tinha-se que saber como fazer fogueira, fazer ferver uma panela com água, e havia marchas com bagagem. O principal eram os jogos de campo, também o que mais atraía a maioria. Cada um tinha um tal de bastão da vida e o objetivo era tirar o bastão do adversário. Sem o bastão o adversário estava morto. O ponto alto dos jogos era a batalha dos bastões. Eu tinha desenvolvido uma técnica simples: escolhia o adversário mais forte, que tomava rapidamente o meu bastão. Assim eu ficava de fora. Os mortos podiam assistir aos outros se baterem. Não me lembro de ter achado graça nessa brincadeira. Em casa a conversa era de oposição e na escola podíamos contar o que se escutava e dizia em casa. Entretanto, os rituais nazistas exerciam uma fascinação. O verso da canção que dizia: ‘Continuaremos marchando quando tudo cair em pedaços’ me deixava arrepiado. [...]
MÜLLER, Heiner. Guerra sem batalha: uma vida entre duas ditaduras. São Paulo: Estação Liberdade, 1997, p. 30-31.
MÜLLER, Heiner. Guerra sem batalha: uma vida entre duas ditaduras. São Paulo: Estação Liberdade, 1997, p. 30-31.
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